ARTIFÍCIOS SIMBÓLICOS DE NATURALIZAÇÃO E REPRODUÇÃO DO RACISMO: UMA ANÁLISE DISCURSIVA A PARTIR DO CASO CRISPIM TERRAL

Autores

  • Júlia Wêridianna Maria Pires Soares Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Nelson Davi Pereira FACULDADE DE CIÊNCIA HUMANAS DO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO (FACESF)
  • Pedro Henrique Alves Santos FACULDADE DE CIÊNCIA HUMANAS DO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO (FACESF)

Palavras-chave:

Racismo, Análise Crítica do Discurso, Identidades, Decolonialidade

Resumo

Introdução: o presente estudo considera como ponto de partida o incidente de violência perpetrado por funcionários de uma agencia bancária da Caixa Econômica Federal em Salvador-BA contra o empresário Crispim Terral. Toma-se como problema de pesquisa a indagação sobre quais elementos discursivos são articulados para (re)produzir e legitimar os processos racistas de exclusão de indivíduos negros e não-brancos dos lugares de poder? Objetivo geral: identificar os elementos discursivos (ordem do discurso, gênero e estilos) utilizados para (re)produzir e legitimar os processos racistas de exclusão de indivíduos negros e não-brancos dos lugares de poder? Objetivos específicos: 1) identificar os elementos discursos presentes numa narrativa jornalística sobre o incidente em análise; 2) discutir os elementos discursivos a partir da triangulação teórica delineada na articulação das teorias do discurso de Fairclough, das identidades de Ciampa e (de)colonialidade de Quijano; analisar os dados a partir da temática do racismo estrutural proposto por Almeida e Teixeira. Método: para coleta dos dados selecionou-se uma única reportagem em veículo de circulação nacional em plataforma digital. Na fase de análises aplicou-se sobre o material a técnica de Análise do Discurso (AD) considerando a delimitação teórica de Fairclough e Resende. Para validação dos dados utilizou-se a triangulação teórica delineada por Apostolidis e Minayo. Resultados parciais: verifica-se na superfície textual da notícia a presença dos seguintes modos de operação ideológica: 1. a Dissimulação pela estratégia da Eufemização quando o evento deixa de ser significado como ‘crime’ ou ‘violência’ e é tratado como ‘confusão’; 2. Reificação pela estratégia da Naturalização quando a pessoa sobre quem recai a violência é identificada sem elementos afetivos (indignação ou empatia); 3. Reificação pela estratégia da Passivização quando os autores da agressão são dissociados dela e, esta passa a ser veiculada como sujeito e não objeto da notícia, deixando de se enfatizar a necessária responsabilização dos autores da violência. Conclusões: Sendo a articulação de modos de operação ideológica, suficiente para fixar um gênero discursivo de governança, isto é, um mecanismo simbólico articulatório de sentidos que regula e controla o evento noticiado com vistas a restringir a capacidade de reação dos interlocutores na medida em que também posiciona os sujeitos partícipes no evento narrado. Sendo esse posicionamento simbólico equivalente a um processo colonial de ordenação discursiva pela manutenção do racismo, isto é, da distribuição assimétrica do poder a partir do elemento racial, legitimando e naturalizando as violências perpetradas cotidianamente contra sujeitos negros e não-brancos.

Publicado

2019-11-10