ATIVIDADE DE EXTENSÃO E PESQUISA DOMICILIAR SOBRE HAS COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E METODOLOGIA ATIVA EM TEMPOS DE PANDEMIA

Autores

  • Marcelo Silva Nascimento Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Daniela Natalia Barbosa Freire Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Eliza Resende Nunes Nogueira Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Alexandre Carvalho Xavier Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)

Resumo

Introdução: Pesquisas têm mostrado uma forte associação entre as principais doenças crônicas não transmissíveis e os fatores de riscos altamente prevalentes para o aparecimento dessas doenças, destacando-se entre os fatores, tabagismo, consumo abusivo de álcool, excesso de peso, níveis elevados de colesterol, baixo consumo de frutas e verduras e sedentarismo. O monitoramento destes fatores de risco e da prevalência das doenças a eles relacionados é primordial para definição de políticas de saúde voltadas para prevenção destes agravos. A Hipertensão Arterial Sistêmica – HAS e doenças cardiovasculares apresentam-se com maiores índices de acometimento e morbidades para uma população que se encontra cada vez mais sobrecarregada de “falta de tempo”, estresse e sobrecargas funcionais. O estudo da fisiologia e fisiopatologia dos sistemas orgânicos compõem o ciclo básico dos cursos de saúde relacionando-se ao eixo das disciplinas biológicas e da saúde, onde a formação do acadêmico de fisioterapia abrange nas suas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) a aquisição de aptidões, habilidade e competência para atuação de um profissional generalista atento às condições de saúde e doença no meio em que vive, observando os aspectos regionais em relação à promoção, prevenção, habilitação e reabilitação da saúde em todos os níveis de assistência. Assim, um ensino coerente com essa formação em excelência deve atentar-se ao trinômio ensino, pesquisa e extensão possibilitando ao aluno um aprendizado com trocas de experiências e introspecção às demandas sociais de sua comunidade. No momento em que vivenciamos a necessidade de adequação dos programas das disciplinas às condições sanitárias de restrição social e combate à disseminação do novo Coronavírius, fez-se utilizar de estratégias de ensino-aprendizagem adaptadas à realidade com metodologias ativas que possibilitasse a continuidade do aprendizado e a fomentação da pesquisa e atividade de extensão. O desenvolvimento desse estudo em tempos de pandemia foi grande proveito para facilitar o estudo das doenças cardiovasculares, a incidência da HAS e a prevenção dos fatores de risco através da identificação dos hábitos de vida investigado pelo acadêmico em seu domicilio. Marco teórico: De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) “Os mais importantes fatores de risco comportamentais para doenças cardíacas são dietas inadequadas, sedentarismo, uso de tabaco e uso nocivo do álcool”. Os efeitos desses fatores comportamentais podem se manifestar em indivíduos por meio de pressão arterial elevada, sobrepeso e obesidade entre outros. Hipertensão arterial (HA) é condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. De acordo com a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2016) estimativa-se que o impacto da hipertensão arterial revela que ela estava presente em 69% dos pacientes com primeiro episódio de Infarto Agudo do Miocárdio, 77% de Acidentes Vascular Encefálico, 75% dos pacientes com Insuficiência Cardíaca, sendo responsável por 45% das mortes cardíacas e 51% das mortes decorrentes de AVE nos Estados Unidos no ano de 2015. “No Brasil a HAS atinge 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV)”. Objetivo geral: Desenvolver atividade de extensão através de pesquisa domiciliar realizada pelos acadêmicos do curso de Fisioterapia da FACESF, com a finalidade de conhecer os fatores de risco e incidência da HAS na região do médio São Francisco, como metodologia ativa desenvolvida durante a pandemia do novo Coronavírus. Objetivos específicos: Apresentar a atividade de extensão e pesquisa para aprimorar os conhecimentos teóricos como metodologia ativa durante o período de aulas remotas; investigar os fatores de risco e incidência da HAS em indivíduos adultos através de pesquisa realizada no domicílio do aluno; integrar o ensino teórico-prático no estudo do organismo humano associado à investigação da saúde pública; gerar educação preventiva em saúde através da propagação do conhecimento tendo o acadêmico como sujeito ativo de transformação social a partir do núcleo familiar. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, experimental, quantitativo, que analisa informações coletadas através de pesquisa realizada pelos acadêmicos do terceiro período do curso de Fisioterapia, como atividade extensionista orientada pela disciplina de Fisiologia Humana desenvolvida durante o segundo trimestre do ano de 2020, entre os meses de abril a junho. Aplicada na região do médio São Francisco, principalmente nas cidades de Belém de São Francisco, Cabrobó, Curaçá, Floresta, Ouricuri, Petrolina e Rodelas domicílio dos alunos/pesquisadores envolvidos no estudo com uma amostra de 117 pessoas voluntárias, sendo considerados os seguintes critérios de inclusão para participar da pesquisa: ser voluntário com idade maior que 18 anos, considerando aptos para a pesquisa 102 dos questionários aptos para ser incluídos por estarem devidamente preenchido, sendo excluído 15 questionários realizados de forma incompleta, com informações contraditórias ou coletadas com indivíduos fora da margem de inclusão indicada. Para realização do mesmo foi utilizado como base de fonte pesquisa bibliográfica orientada sobre o estudo da fisiologia do sistema cardiovascular, pressão arterial e os fatores de risco para a prevalência da HAS; dados coletados pelos acadêmicos através de aplicação de questionário e exame físico baseado no modelo adotado pela Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD), constituído de entrevistas, medidas físicas e dados laboratoriais da população de acordo com respostas e informações autorreferidas pelos entrevistados. A pesquisa foi aplicada como os sujeitos voluntários respeitando os critérios éticos legais de sigilo, autonomia, beneficência e não maleficência, com aplicação do termo de consentimento livre e esclarecido aos mesmos, esclarecendo os voluntários sobre os objetivos da atividade, como seria realizada a mesma e que o estudo não apresentava qualquer tipo de risco os sujeitos envolvidos. Procedimentos aplicados: A coleta de dados foi realizada através de exame físico e antropométrico de acordo com os protocolos de: a) coleta de peso (km) e altura (m) com utilização de balança ergométrica e fita métrica ou através de dados informados pelos sujeitos pesquisados; b) cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) – calculada pelo resultado do peso dividido pela altura ao quadrado, interpretando os dados de acordo com os parâmetros indicados pelo Ministério da Saúde para avaliação do estado nutricional de pessoas entre 20 e 59 anos, onde considera-se peso adequado aquele com valor de IMC entre 18,5 kg/m² e 24,9 kg/m²; c) análise do perímetro ou circunferência abdominal (CA) ou circunferência da cintura (CC) – realizada através do protocolo definido pela caderneta do adulto, o que classifica-se que a medida da CA ou CC é reconhecidamente um importante e simples indicador da obesidade central e de risco para doenças crônicas, associadas a outros fatores; d) e o registro da pressão arterial (PA) – de acordo com o procedimento padrão para a verificação da PA com uso de aparelho analógico ou digital de esfigmomanômetro ou pelo valor recorrente de PA referido pelo voluntário, classificando de hipertensão autorreferida ou medida por instrumento com valores ≥ 140/90 mmHg, investigando ainda o uso de medicamentos anti-hipertensivos e local onde o entrevistado, para os casos de hipertensos diagnosticados, realiza acompanhamento para tratamento. Para a complementação dos fatores de risco associou-se à aplicação de questionário simplificado sobre os hábitos de vida e alimentação incluídos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada pelo IBGE (2013). Resultados observados: De acordo com a aplicação dos questionários e coleta dos dados a pesquisa foi dividida entre os seguintes aspectos para análise: 1. Dados pessoais; 2. Estilo de vida; 3. Doenças associadas e; 4. Exame físico. No estudo/atividade de extensão foram analisados um total de 102 questionário aprovados pelos critérios de inclusão, dos quais 28(27%) aplicados com pessoas do sexo masculino e 74(73%) com pessoas do sexo feminino; observando assim a grande prevalência de mulheres na análise do estudo em questão. 1.1. Em relação à idade dos voluntários a maioria encontra-se na faixa etária entre 18 a 24 anos (48%), seguidos por 24% com idade entre 40 a 59 anos, 18% com idade entre 25 a 39 anos e 10% de pessoas com 60 anos ou mais. 2. Sobre o estilo de vida e hábitos alimentares foram analisados o seguinte itens: 2.1 Consumo recomendado de hortaliças e frutas: observando que grande parte da população 65% consome hortaliças e frutas mais de 3 vezes por semana. 20% consome hortaliças e frutas menos de 3 vezes por semana ou apenas no fim de semana e 16% dos entrevistados raramente consomem hortaliças e frutas aproximadamente. Observando que o consumo recomendado de frutas e hortaliças pela OMS é de pelo menos 400 gramas de ingestão diária. 2.2 Consumo Regular de Feijão: quase a totalidade da população 84% da amostra consome feijão mais de 3 vezes por semana considerando o alimento rico em fibras e nutrientes importantes na dieta do brasileiro, acompanhado pelos valores de 9% que consome feijão menos de 3 vezes por semana e 7% consomem feijão apenas nos fins de semana ou raramente consomem feijão. 2.3 Consumo excessivo de gordura: quase 50% consome excesso de gordura mais de 3 vezes por semana, aproximadamente 25% consome excesso de gordura menos de 3 vezes por semana, e cerca de 10% consomem excesso de gordura apenas nos fins de semana e 15% raramente consomem excesso de gordura. 2.4 Consumo regular de refrigerante: possui uma distribuição bem variada em relação ao hábito do consumo desse alimento na região estudada, onde 30% dos voluntários consomem refrigerante mais de 3 vezes por semana, 20% consomem refrigerante menos de 3 vezes por semana, 9% consomem apenas nos fins de semana e 40% dos entrevistados assinalaram que raramente consomem refrigerante.  2.5 Consumo regular de alimentos doces, como bolos, tortas, chocolates, balas, biscoitos ou bolachas doces: outro hábito de consumo que apresenta dados bem divididos com 36% tendo o hábito de consumir os alimentos indicados mais de 3 vezes por semana, 28% consumindo menos de 3 vezes por semana, 10% apenas no fim semana e 26% raramente consome esses alimentos. 3. Em relação ao consumo de bebidas alcóolicas observa-se na população estudada que 21% fez ingestão de bebida alcoólica nos últimos 30 dias, independente da dose, 9% fez ingestão de cinco ou mais doses, em uma única ocasião, nos últimos 30 dias, 13% consume bebida alcoólica uma vez ou mais por semana e uma grande parcela 57% não consome bebida alcóolica. O que apresenta um hábito de consumo favorável à melhor qualidade de vida na população estudada pois, de acordo com a OMS o consumo abusivo de bebidas alcoólicas é considerado um fator de risco das principais doenças crônicas não transmissíveis, bem como sua associação aos acidentes e violências. 4. Tabagismo: um dos principais fatores de risco evitáveis à saúde, podendo contribuir para o desenvolvimento de várias doenças crônicas como doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, pneumonias e asma, problemas oculares como catarata e cegueira, entre outras, foram indicados da seguinte forma. 4.1 investigando o uso de tabaco (fumo) e seus derivados, apenas 6 entrevistados definiu-se como tabagista, dos quais 83% faz uso do tabaco por mais de 3 vezes por semana e 17% fuma raramente. 4.2 sobre os demais sujeitos observou-se que 94% nunca fumou, 4% é ex-fumante há menos de 5 anos. 1% é ex-fumante entre 5 e 10 anos e 1% é ex-fumante há mais de 10 anos. Estudos indicam que após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade em ex-fumantes, mas pós 10 anos é que o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram. (INCA, 2020). 5. Entre a análise de Doenças crônicas Associadas à população estudada verificou-se que: 5.1 tem diagnóstico de Doenças Cardiovasculares (exceto HAS) apenas 3% dos entrevistados, apontando que a ocorrência de doenças cardiovasculares no público da amostra é pequena diante da realidade do país onde foi identificado que no ano de 2015 44.526.201 pessoas 31,2% da população brasileira possuía diagnóstico de HAS de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). 5.2 tem diagnóstico de Diabetes 8% dos entrevistados. 5.3 na pesquisa não foi pontado indivíduos com diagnóstico de câncer. 5.4 11% informou diagnóstico de Doença Respiratória. 5.5 apenas 1% referiu ter diagnóstico de Doença Neuropsiquiátrica. 6. Concluindo assim os itens que possas influenciar e traçar o perfil epidemiológico do público analisado, culminando na investigação sobre a HAS. 6.1 declarando ter diagnóstico clínico de HAS 23% da amostra e 6.2 20 % fazendo uso regular de medicamento para HAS. 6.3 investigando sobre o local onde essas pessoas realizavam assistência para o tratamento da Hipertensão foi indicado que a grande maioria 63% fazem acompanhamento da doença em unidade básica de saúde, 4% em centro de especialidades, policlínica pública ou PAM, 7% em unidade de pronto atendimento pública ou emergência de hospital público, 15% em consultório particular ou clínica privada e 11% em outro local ou não soube informar. 7. Exame Físico complementa a pesquisa realizada para associação aos dados coletados de acordo com os procedimentos descritos na metodologia. 7.1 IMC - relação Peso/Altura2: foi identificado que 6% das pessoas entrevistadas foram classificadas de baixo peso, 40% com peso adequado, 41% sobrepeso e 13% classificados com obesidade. 7.2 Medida da circunferência da cintura ou abdome em cm: 44% não possui risco de doenças cardiovasculares, 32% possui risco aumentado de doenças cardiovasculares e 24% possui risco muito aumentado de doenças cardiovasculares. O que reafirma a incidência de HAS na amostra analisada de 23%. 7.3verificando a pressão arterial de acordo com a última aferição realizada ou pelo registro realizado pelo aluno/pesquisador foi observado que 83% possuíam valores normais da PA, 7% normal limítrofe, 9% hipertenso leve, 1% hipertenso moderado e não apresentando indivíduos com hipertensão grave, justificado por a maioria dos sujeitos com diagnostico de HAS está fazendo uso de medicação regular e acompanhamento clínico. Considerações finais: Gerar educação preventiva em saúde através da propagação dos conhecimentos adquiridos e na troca de experiências tendo o acadêmico como sujeito ativo de transformação social a partir do núcleo familiar é um diferencial para a formação de sujeitos aptos a adequar a realidade em que vive à sua prática profissional. Problematizar a partir dos conteúdos curriculares para atividade extensionista que estimulem a pesquisa científica para o conhecimento amplo dos fatores de risco das formas de adoecimento e prevenção das mesmas com a mudança de hábitos de vida para uma comunidade mais saudável. Identificar a troca de experiências através do trabalho em equipe e os esforços para a continuidade do ensino em situações de aprendizagem remota possibilitando novas formas de metodologias. São condições que fizeram dessa atividade de pesquisa ter maior valor na formação do acadêmico do curso de Fisioterapia da FACESF.

Publicado

2020-05-18

Como Citar

Nascimento, M. S., Freire, D. N. B. ., Nogueira, E. R. N. ., & Xavier, A. C. (2020). ATIVIDADE DE EXTENSÃO E PESQUISA DOMICILIAR SOBRE HAS COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E METODOLOGIA ATIVA EM TEMPOS DE PANDEMIA . Fórum Regional De Pesquisa E Intervenção (FOR-PEI), (2). Recuperado de https://periodicosfacesf.com.br/index.php/FOR-PEI/article/view/116

Edição

Seção

GT2: SAÚDE E INTERDISCIPLINARIDADE- TEORIA, METODOLOGIA E PRÁXIS