RELATO DE EXPERIÊNCIA

ATIVIDADE DE EXTENSÃO AGOSTO LILÁS - AÇÃO DE PREVENÇÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Autores

  • Douglas da Silva Nascimento Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Cindy Laiza Santos de Almeida Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Millena Pereira de Assis Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)
  • Graciely Maria de Oliveira Castro Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco (FACESF)

Resumo

Introdução: As diretrizes curriculares para a formação de saúde, pincipalmente da enfermagem, demonstram a educação permanente como uma prática comum do exercício profissional. Ela está presente na atuação do enfermeiro desde o processo de construção acadêmica até o período de pós-formação (OLIVEIRA, 2019). Esse processo procura agregar a multidisciplinaridade da equipe de saúde focando na prática como alicerce do conhecimento, colaborando com a participação do estudante de graduação de forma ativa no processo de aprendizagem. Tal aprendizado se torna mais sólido por meio da realização de ações de educação em saúde que tem como um dos objetivos proporcionar ao graduando o contato de forma antecipada com o seu futuro profissional. Outro fator importante é que a educação permanente em saúde pode ser usada como estratégia para uma aproximação e início de um diálogo com a sociedade. Esse diálogo pode facilitar o acesso da população a informações importantes sobre as mais variadas questões, como a promoção de saúde, prevenção de doenças, prevenção a violência, entre outros temas que sejam pertinentes à comunidade (SILVA; RIBEIRO; SILVA JÚNIOR, 2013). Diante do processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Educação Permanente em Saúde, ministrada no segundo período do curso de bacharelado em enfermagem da FACESF são desenvolvidas várias atividades extensionistas que procuram levar o aprendizado da sala de aula para a comunidade de Belém de São Francisco. A extensão universitária procura fazer uma abordagem de integração entre o meio acadêmico e a população envolvida, permite ao aluno da graduação transmitir o conhecimento adquirido na sala de aula, colaborando com a transformação da sociedade. Segundo Paulo Freire (1974) a educação é importante para o desenvolvimento social: “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”. A extensão universitária é uma ação extra-muros que procura aproximar o aluno da realidade, minimizando a distância entre teoria e prática (SILVA, 2013). É importante frisar que as ações de extensão devem ser associadas com o ensino e a pesquisa, pois ambas caminham juntas. Tais ações possibilitam aos discentes o interesse pela produção de trabalhos acadêmicos, estudos mais aprofundados sobre questões importantes levantadas durante o processo, bem como a produção de artigos científicos, contribuindo assim, com o currículo acadêmico e prestando um serviço à comunidade envolvida, visando contribuir na construção do conhecimento e proporcionando autonomia da população na busca por seus direitos. Marco teórico: O agosto lilás é uma campanha criada para comemorar o aniversário da Lei 11.340/2006, também conhecida como Lei Maria da Penha. A campanha visa chamar a atenção da sociedade para o problema da violência contra a mulher, é um mês em que a sociedade civil e diversas instituições governamentais e não-governamentais se mobilizam por meio de várias ações e debates sobre o assunto. Esse ano a Lei comemora 13 anos, tivemos um grande avanço, pois hoje temos uma lei de proteção a mulher, muitas conseguem denunciar seus agressores, porém a lei por si só não é efetiva, é preciso destacar a necessidade de transformação da sociedade por meio do processo de educação desde a base, pois a origem do problema é cultural. No Brasil o número de casos de violência é estarrecedor, diariamente mulheres de todas as idades e classes sociais vivenciam na pele agressões no âmbito familiar de todos os tipos:  física, psicológica, sexual moral e patrimonial, todas estas elencadas na lei (BRASIL, 2006). A violência doméstica, considerada como sinônimo de violência contra a mulher por alguns autores, é um fenômeno baseado nas relações de gênero, de poder do homem sobre a mulher. Essa relação de domínio vem de questões culturais e são perpetuadas de geração a geração na sociedade. A violência contra a mulher é um problema universal e está presente em vários países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 2013 a prevalência foi de 30% (LUCENA et al, 2017). No Brasil segundo o mapa da violência de 2015 o número de vítimas passou de 1.353 em 1980 para 4.762 em 2013, um aumento de 252% (WAISELFISZ, 2015). Em Pernambuco, especificamente na cidade de Belém de São Francisco em 2017 foram registrados 73 e em 2018 foram 67 casos, no entanto esses números podem ser bem maiores tendo em vista que muitas vítimas não denunciam seus agressores por medo ou ameaça (PERNAMBUCO, 2019). Diante do problema que envolve a violência doméstica e de alguns dados expostos aqui, ações que promovam a discussão e chamem a atenção das pessoas são necessárias e precisam de cada vez mais pessoas que abracem essa causa. Esse tipo de violência é considerado um problema de saúde pública e está associada com a morbidade entre as mulheres, verificou-se que um estudo da Colômbia citou sintomas de depressão e dor crônica presentes na população feminina estudada (MEDINA; ERAZO; DÁVILA; HUMPHREYS, 2011). A participação desde cedo dos graduandos e futuros profissionais de enfermagem nesse engajamento social é de extrema importância, para a compreensão do problema. É preciso a participação ativa do enfermeiro, seja na prevenção por meio do processo educativo, seja na sensibilidade e humanização no momento do atendimento à mulher vítima de violência que muitas vezes após a agressão procura atendimento nos serviços de emergência em primeiro ou até mesmo único lugar. Procedimentos Aplicados: O projeto se desenvolveu através dos nossos encontros semanais, na disciplina de Educação Permanente em Saúde, nesses encontros são trabalhados diversos textos em sala, de assuntos diversos, mas sempre com foco principal na saúde. A temática da violência contra mulher foi planejada mediante o calendário anual que é trabalhado por diversas entidades públicas e organizações de defesa dos direitos humanos da mulher, como o Instituto Maria da Penha (IMP) do qual a nossa coordenadora de curso é associada como Defensora dos Direitos à Cidadania, participando de eventos ao longo do ano. O IMP através da sua co-fundadora e vice-presidente, Professora Regina Célia, apoiou a ação realizada pelo curso de Enfermagem da FACESF e se comprometeu a fornecer a certificação pelo IMP, aos alunos e docentes participantes, pois para o Instituto as ações voluntárias e de educação sobre o tema são de extrema importância na sociedade e cada vez mais é preciso mobilizar a todos no combate a todos os tipos de violência contra a mulher. Também foi organizado pela equipe de comunicação da nossa Instituição de Ensino Superior (IES) os panfletos a serem distribuídos no dia da ação. O agosto lilás é o mês utilizado para chamar a atenção da sociedade civil sobre a importância ao combate a esse tipo de violência tão presente ainda e com números alarmantes em todo o país. O planejamento foi realizado com o Prof. Elias Paschoal, responsável pela disciplina e em apoio da coordenação de curso, representado pela professora Graciely Castro. Na sala de aula o tema foi discutido entre os alunos por meio de textos e debates, posteriormente foram elaborados diversos cartazes pelos alunos, em conjunto com o professor Elias Paschoal e a professora de Saúde Coletiva, Dina Trindade. Os cartazes foram utilizados no momento da ação realizada no dia 31 de agosto de 2019, num sábado. Esse dia foi escolhido devido ao grande número de pessoas na feira e no comércio de Belém de São Francisco, facilitando assim o acesso a população. Os panfletos foram elaborados pelo setor de comunicação da IES com o objetivo de orientar a população sobre os tipos de violência contra a mulher e onde ela poderia procurar ajuda. Resultados observados: No dia 31/08/2019 nós, alunos do 2º período de Enfermagem, nos concentramos na sala de aula, onde organizamos o nosso grito de efeito que seria entoado durante todo o percurso da caminhada, colocamos algumas marcas de tinta no rosto nas cores preta e lilás (a preta simbolizando o luto pelas mulheres que perderam a suas vidas pela violência e a lilás que simboliza o tema da campanha). Foram realizadas também diversas pinturas no rosto/corpo, representando as marcas de violência física sofridas pelas mulheres, o objetivo era chamar a atenção da população. Posteriormente, nos reunimos no pátio da faculdade por volta das 08:00h para que o professor Elias Paschoal e a coordenadora do curso, professora Graciely Castro, prestassem as últimas orientações e devidos ajustes sobre a ação. Houve também a participação da professora Geyza Vieira que atuou de forma ativa e nos deu um grande suporte. A ação teve como foco fornecer as pessoas, principalmente às mulheres (público-alvo), como elas podem recorrer nos casos de situações de violência doméstica e contra a mulher. Saímos da faculdade em direção ao pátio da feira, uma tenda da Instituição de Ensino Superior (IES) foi armada no local como ponto de encontro e para que o público pudesse observar nossa presença e o movimento que seria iniciado logo mais, nós, alunos, estávamos com a camisa do curso de Enfermagem da instituição o que facilitou nossa identificação pela população. Passamos cerca de quinze minutos na tenda, nesse momento foi realizada a organização das equipes e divisão das tarefas a serem executadas. Logo em seguida demos início a ação com a distribuição de informativos, que traziam diversos esclarecimentos sobre o que é a violência contra a mulher, os tipos existentes de violência e os canais de ajuda que a mulher poderia procurar caso fosse necessário, além da entrega dos panfletos também foi realizada uma explicação breve acerca do tema. Durante todo o movimento foi utilizado um aparelho de som com algumas músicas, as quais tinham como objetivo ressaltar a valorização da mulher e, além disso, provocar reflexões sobre a temática do movimento no público ouvinte. Essa primeira atitude dos alunos e professores envolvidos já causou um efeito significativo, pois as pessoas ficaram mais atentas, despertando, assim, certo interesse na ação realizada.. Durante as abordagens, as mulheres (principal público alvo da ação), demonstraram inicialmente certo estranhamento, no entanto, com o decorrer do tempo começavam a expressar uma maior disposição/dedicação, facilitando a abordagem dos alunos. Muitas delas chegaram a fazer alguns questionamentos sobre o tema, como deveriam agir nesses casos, sendo orientadas pelos alunos a procurarem o Disk 180, informação, esta, contida no informativo, outras opinavam sobre o tema. Por outro lado, algumas ouvintes demonstravam um tipo de constrangimento/ timidez durante a ação, essa reação era evidenciada, principalmente, com as mulheres que estavam acompanhadas dos parceiros ou de outra figura masculina. Logo após a movimentação no pátio da feira, realizamos uma caminhada pelas ruas da cidade, por meio dessa caminhada conseguimos abordar uma quantidade maior de pessoas, de ambos os sexos, mas sempre com foco nas mulheres. Nas casas e comércios por onde passamos era despertado um efeito atrativo na população. Foi possível observar um alto nível de interação entre a comunidade e os alunos, no qual pudemos notar a grande falta de informação, não só entre as mulheres, mas entre a população geral, sobre o tema abordado.  Na caminhada pelo comércio da cidade pudemos observar mais uma vez algumas características importantes a serem pontuadas aqui: uma mulher que estava sozinha demostrou interesse, mas sem fazer muitas perguntas; já em um grupo só de mulheres houve bastante interesse por parte das mesmas, uma interação direta com as alunas em busca de respostas e com acréscimo na fala sobre a temática abordada;  nos casos de mulheres que estavam acompanhadas por homens (não foi possível identificar o tipo de parentesco/relação naquele momento) observamos pouco interesse (talvez por acharem que não precisariam daquela informação), receio de perguntar, constrangimento, olhar de medo (talvez mesmo por acharem que poderíamos supor que era o caso de alguma delas, talvez por já terem vivenciado ou até mesmo passem por essa situação); no caso dos homens observamos o receio/medo de interagir, alguns com olhar disperso, pouca fala e outros demostraram ter algum conhecimento sobre a lei que protege as mulheres. Desse modo, é preciso aumentar as campanhas educativas e de incentivo a denúncia para que esse tipo de crime possa ser combatido. Considerações Finais: Ao fim da ação foi possível concluir que houve um grande interesse pela população belemita acerca do tema violência contra a mulher, percebemos que mesmo sendo um trabalho simples foi possível chamar a atenção das pessoas que passavam pelo local, verificamos também o efeito positivo no nosso público-alvo. É preciso manter o debater com a sociedade sobre o assunto, pois ainda são muitas as dúvidas de como as mulheres devem proceder ao passarem por uma situação de violência e quais os locais que elas podem procurar para pedir ajuda, foi perceptível a necessidade de informações demonstradas pela comunidade. Foi possível constatar a importância do enfermeiro no processo de educação e o seu contato direto com a comunidade facilita a comunicação e o ajuda a verificar as necessidades locais para que posteriormente ele possa planejar as ações futuras necessárias. Atividades desse tipo motivam os alunos a mergulhar no processo do conhecimento, pois torna-se palpável a sua contribuição com a sociedade, ações como essa agregam e engradecem nossa vida acadêmica.

Publicado

2019-12-20

Como Citar

Nascimento , D. da S., Almeida, C. L. S. de, Assis , M. P. de, & Castro , G. M. de O. (2019). RELATO DE EXPERIÊNCIA: ATIVIDADE DE EXTENSÃO AGOSTO LILÁS - AÇÃO DE PREVENÇÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. Fórum Regional De Pesquisa E Intervenção (FOR-PEI), (1). Recuperado de https://periodicosfacesf.com.br/index.php/FOR-PEI/article/view/78

Edição

Seção

GT2: SAÚDE E INTERDISCIPLINARIDADE- TEORIA, METODOLOGIA E PRÁXIS