CAPS AD
AÇÕES PARA REDUÇÃO DE DANOS OBSERVADOS NO EQUIPAMENTO DE PETROLINA-PE
Resumo
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) foi instituído pela portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2002) e constitui ponto de atenção estratégico da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). É um serviço de saúde aberto, comunitário, de base territorial e municipalizado, que dispõe de um atendimento interdisciplinar e multiprofissional. Surgiu como um avanço de políticas públicas rompendo com o modelo manicomial asilar antes estabelecido no Brasil e com o intuito de dar assistência à população em sofrimento psíquico, seja por transtornos mentais ou abuso de álcool e outras drogas, visando como modo de trabalho à interdisciplinaridade, intersetorialidade e humanização do cuidado, dentro de um sistema matricial estabelecendo sempre um papel inclusivo. Os CAPS utilizam, dentro do trabalho psicossocial quanto à psicologia, a clínica ampliada, que propõe um “fazer saúde” sempre de modo coletivo em que a participação de todos os profissionais da equipe é ativa e atende a todos os usuários, com uma visão centrada neste, enquanto sujeito em transformação e com uma história, assim formando um diagnóstico baseado na soma de saberes dos profissionais. Entre as modalidades existentes de CAPS, o CAPS AD é um serviço de caráter comunitário, que presta atendimento às pessoas com transtornos mentais em decorrência do uso de álcool e outras drogas, sendo indicado para municípios com população acima de setenta mil habitantes (BRASIL, 2011). Para realização deste trabalho, utilizou-se como método a observação qualitativa, a partir de uma aula prática no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas 24h (CAPS AD III) no Município de Petrolina - Pernambuco, que oferece como estratégias de atenção e cuidado aos usuários do serviço, a política de redução de danos, que se baseia não necessariamente na extinção do uso, mas na tolerância e na consideração às escolhas individuais, e o Projeto Terapêutico Singular - PTS, de acordo com as necessidades avaliadas para cada indivíduo. O tratamento intensivo no CAPS AD III pode incluir a utilização de acolhimento noturno conforme as necessidades do usuário, ofertando também assistência aos familiares de usuários de álcool e outras drogas, com orientação e apoio especializados. Os critérios de inclusão no CAPS AD são: residir no munícipio de Petrolina, aceitar voluntariamente o tratamento e permanência no CAPS e estar apto para o serviço, ou seja, estar em situação de crise. Os usuários devem identificar/reconhecer prejuízos em alguma área de sua vida (saúde, social, familiar, profissional, financeira) decorrente do uso de álcool ou outras drogas, tornando-se responsáveis pelo seu tratamento. Durante a visita, alguns momentos foram difíceis, pois estávamos receosas e apreensivas, e por que não dizer levadas pelo preconceito, sem saber como fazer para interagir com os usuários do CAPS AD. Até que em determinado momento, os mesmos começaram a nos cumprimentar, aparentemente para nos dar as boas vindas, demonstrando que estavam felizes com a nossa presença. Tivemos a oportunidade de participar de uma conversa com o psicólogo da instituição, momento este bastante produtivo porque tivemos o prazer de, a partir de suas falas, conhecer um pouco da prática do psicólogo neste serviço, como funciona o trabalho, como é feita a triagem dos usuários e como se compõe a equipe multiprofissional do CAPS-AD III de Petrolina. Também pudemos compreender um pouco das dificuldades encontradas diante dessa prática nesse ambiente, principalmente em relação à estrutura minúscula para comportar o atendimento diário de mais de setenta usuários. Foi possível presenciar uma roda de conversa que estava sendo coordenada pelo redutor de danos, e que tinha como tema o racismo: cada um falava o que sabia e o que queria diante da problemática criada pelo oficineiro que conduzia a atividade, contando o que lhe vinha à cabeça mesmo que não tivesse relação com o tema, porém, era importante falar. Com o objetivo de interagir e conhecer sobre a realidade de alguns usuários, perguntamos para um grupo que jogava dominó se poderíamos jogar com eles, diante da resposta positiva, o contato ficou mais fácil. Perguntamos quanto tempo fazia que estavam no CAPS e se gostavam de participar das atividades do equipamento, eles interagiram e contaram experiências pessoais com o álcool e outras drogas, histórias de vidas, além de sua participação no CAPS AD. Pudemos compreender a vivência dos usuários e dos familiares que estavam ali presentes. A possibilidade de conhecer a realidade profissional do psicólogo é enriquecedora, é o ponto chave para uma formação que instiga a curiosidade e o amor pela profissão. Poder estar diante de profissionais de psicologia compartilhando suas experiências, bem como em contato com os usuários, mostra uma realidade que não está longe de acontecer e que desperta sensações que fazem entender o porquê escolher psicologia, não só como profissão, mas como um divisor de águas na vida de quem atua assim como na vida dos usuários. Tivemos a oportunidade de sair da teoria e tirar nossas dúvidas de como ocorre o trabalho na prática, foi um dia muito produtivo, entender que no CAPS AD o usuário nem sempre vai conseguir extinguir o uso das drogas, mas que ele pode ser conduzido a reduzir danos causados a sua saúde física, social e psíquica.
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